A DOR E A DELÍCIA DE DIALOGAR
INVESTIGAÇÃO TEMÁTICA E INTERCULTURALIDADE CRÍTICA EM UM CURSO DE FORMAÇÃO DE EDUCADORES POPULARES DE CAPOEIRA
Palavras-chave:
Diálogo, Interculturalidade, Educadores De Capoeira, DecolonialidadeResumo
Nos anos de 2005 e 2007, na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, realizaram-se duas edições do Curso de Formação de Educadores Populares de Capoeira na Perspectiva Intercultural (PERI-Capoeira). Transcorridos 15 anos, discutimos o processo de “investigação temática” vivido naquela inédita experiência. Retomamos aqui a centralidade da noção de diálogo, na perspectiva de Paulo Freire, como sustentáculo do processo de investigação temática, que possibilitou a organização programática das práticas educativas, partilhadas com educadoras e educadores populares de capoeira naquele tempo-espaço. Nosso argumento principal é o de que o diálogo vislumbra o horizonte de uma convivência intercultural crítica entre os sujeitos educacionais. Esta ênfase implica em elaborar os conflitos que emergem nas relações de saber e de poder entre sujeitos e contextos diferentes, conflitos que são inerentes à colonialidade do saber (que impõe como neutra e universal a ciência e civilização moderna-europeia, subalternizando ou negando os saberes e cosmopercepções de povos originários ancestrais) e a colonialidade do poder (sustentando, com base em critérios racistas e patriarcais, relações de dominação e exploração entre classes sociais e entre povos). Assim, o contexto educacional do PERI-Capoeira foi demarcado pelo encontro entre a universidade (e os pressupostos coloniais que orientam o saber/poder do conhecimento científico) e a capoeira, como dimensão de saber/poder popular enraizado em cosmopercepções ancestrais. Daí que repensamos o diálogo intercultural na perspectiva crítica e decolonial, como situação-limite e, ao mesmo tempo, como inédito-viável, o que nos permite reviver as dimensões organizativas e epistemológicas das práticas educativas interculturais com “a dor e a delícia de dialogar”.Referências
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